terça-feira, 30 de setembro de 2008

Pensamentos...

Sobre o amor:

Ou você tem alguma esperança de obter a pessoa amada ou não tem. Assim, no primeiro caso, faça todo o esforço para realizar essa esperança e chegar ao cumprimento dos seus votos; no segundo, tome uma resolução viril, procurando livrar-se de um sentimento funesto que consumirá inevitavelmente todas as suas forças.

Sobre o crime:

É verdade que o roubo é um crime; mas ohomem que se torna ladrão para salvar-se e salvar os seus de morrer de fome merece a compaixãoou o castigo? Quem atirará a primeira pedra no esposo que, numa explosão de cólera justa, mata a esposa infiel e o infame amante; na jovem que, num momento de vertigem, se abandona à ebriedade irresistível do amor?

Sobre a paixão pelas palavras e estórias (ou pela a primeira impressão):

Um autor estraga a sua obra, revendo-a e corrigindo-a para uma segunda edição, pois ela nada ganha quanto ao conteudo poético. A primeira impressão nos encontra em estado passivo a tal ponto, que o homem pode aceitar as coisas mais inverossímeis; e, como se fixam fortemente no seu espírito, ai daqueles que depois pretendam apagá-las ou arrancá-las!

Sobre as pessoas desagradáveis:

A lentidão e os escrupulos exagerados me enervam. Essa gente torna a vida desagradável para eles próprios e para os outros. Mas é preciso resignar-se a isso como o viajante se resigna ao ter de transpor uma montanha. É verdade que o caminho seria mais curto e mais comodo se não fosse a montanha; mas a montanha existe e é preciso seguir viagem!

Sobre a mistura de amor e ódio, seguem os relatos de um homem que amava e não foi correspondido, tendo perdido o amor de sua companheira:

Um dia, sabendo que ela se achava num quarto do andar superior, foi procurá-la, ou por outra, sentiu-se atraído para ela. Repelido em suas declarações, quis violentá-la. Não sabe como isso aconteceu. Toma Deus em testemunho de suas intenções honestas: o que desejava, e desejava-o ardentemente, era desposá-la e passar junto dela o resto da vida. Depois de falar algum tempo, calou-se subitamente como um homem que tem ainda alguma coisa a dizer, mas não ousa. Por fim, confessou-me com a mesma timidez as familiaridadezinhas que ela lhe permitiu e a intimidade que acabou por autorizar entre ambos. Por duas ou três vezes ele se interrompeu, protestando vivamente que não dizia isso para "desprezá-la", que a ama e estima como antes, que nada do que me contou havia contado a outrem, que me dissera tudo para convencer-me que de modo algum é um homem perverso ou insensato. . .

Por Alvaro Scorza



Um comentário:

Alana Wenu disse...

Nóóó, biscoito
Muito bem escrito esse!
Lembrei do Humano demasiado humano, do Nietzsche, é todo assim em tratadinhos com "sobre isso", "sobre aquilo"... também gosto de escrever assim =)

Só que não concordamos:
"no segundo, tome uma resolução viril, procurando livrar-se de um sentimento funesto que consumirá inevitavelmente todas as suas forças."

Nunca quero me livrar do sentimento funesto que consumirá inevitavelmente todas as minhas forças, quero sempre que ele me torture até a última gota, me senti mal todas as vezes em que me vi tentando desviar de um sentimento meu =P

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