quinta-feira, 20 de novembro de 2008

A Barca

A barca movia-se suavemente, deslizando sobre o mar agitado. Aproximava-se a noite e os últimos raios de Sol já minguavam, dando lugar ao crepúsculo.

D. e J. fumavam um cigarro na parte exterior da barca enquanto P., o mais jovem dos três, apenas olhava e conversava com os amigos. A cada vez que o mar balançava a barca, D. tinha que segurar com mais força a porta, estando seu corpo do lado de fora e seu braço dentro da barca, oferecendo-lhe proteção. J., por sua vez, encostava-se em um arco que é usado na hora do desembarque e olhava a água que a barca empurrava para trás. P. apenas observava-os encostado temerosamente contra a parede exterior.

Ansiosos, riam e brincavam enquanto a barca não alcançava seu destino. Os três iam assistir o show de uma banda alternativa de que gostavam e cada um estava imerso em sua própria realidade, compartilhando as boas vibrações que sentimos quando estamos na presença de amigos. J. sempre fora o sortudo dos três, aquele que foi atropelado enquanto andava de skate e levantou rindo, aquele que sempre subia no galho mais alto ao escalar uma árvore e saía ileso. Nuvens de fumaça ficavam para trás a cada baforada de J. em direção ao mar e à escuridão que a barca deixava pra trás.

D. comentava naquele momento sobre o jeito peculiar do guitarrista da banda que iam ver tocar. Este guitarrista gostava de tocar e pular em uma perna só, animando o público com seu jeito de universitário - barba densa e visual desleixado. J., inconscientemente, se afastou do arco em que estava encostado e foi imitar. Todos riram, mas nesse momento a barca sofreu um violento baque que fez D. segurar-se com toda força e P. abaixar, perdendo tudo e todos do campo de visão. Ao levantarem e recobrarem a noção de equilíbrio, J. havia sumido. D. riu:

- Ih, o J. caiu da água.

Nisso, P. falou:

- D.! Os motores!

As risadas transformaram-se em um olhar vazio e catatônico fitando o lugar em que J. havia estado um minuto atrás.

Por Alvaro Scorza

2 comentários:

Alana Wenu disse...

Conto maravilhoso, biscuit!
A melancolia na atmosfera, perfeitamente construída, a descrição peculiar de cada personagem (sem nomes para influenciar) e o final trágico. Do cômico à dor devastadora.
SENSACIONAL!

Babo memo!

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Érika Vital disse...

simplesmente adorei! ^^