sexta-feira, 28 de novembro de 2008

O Único Caminho

Um homem caminha sozinho pela noite, parece não ter rumo, o vento frio passa pelo seu rosto congelando seus lábios, sua tristeza faz o vento ficar mais frio ao ponto de sentir congelar sua alma e sentir que seu coração mesmo oco ainda bate, ainda procura por algo.
Chegando em casa ele adormece, e se vê andando em uma escuridão profunda com o mesmo frio dilacerante que ele sentia naquela noite. No meio da escuridão apareceu uma porta, era único caminho para ele seguir, então ele abre e vê todas as coisas do passado, todos os momentos felizes, tudo que vagava pela sua mente, tudo que ele queria de volta, por incrível que pareça só de olhar para o passado trazia uma felicidade então ele resolve atravessar a porta mais uma força o impede e o arremessa longe, a porta se fecha, e mais o uma vez ele esta na escuridão profunda, então se levanta e corre para encontrar a porta, nem parece que esta saindo do lugar mesmo assim ele se esforça e encontra a porta mais essa é diferente, ele abre, e vê seu passado recente, se vê andando na rua pela noite fria, ele usa o braço e percebe que essa porta ele pode atravessar então outra porta aparece, e se abre, era o porta do passado, mais uma vez ele tenta mais não consegue atravessá-la, diante das duas portas ele fica parado sem saber o que fazer, então ele acorda seu coração parecia que iria saltar do seu peito nunca teve um sonho assim.
O homem foi à cozinha tomar um copo de água para se acalmar e pensando muito sobre o sonho ele tinha duas portas mais só podia atravessar uma, não tinha muita escolha, mesmo assim no sonho ele continuou parado. Assim era sua vida, ele queria as coisas boas do passado, mais não podia, tinha que seguir em frente. Quantas pessoas se encontram assim, ignorando o único caminho, perdidos na escuridão, sua única escolha é seguir em frente.


Por Thiago Norvico

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Ramsés II

Uma vez conheci um viajante de uma terra antiga que me falou sobre duas enormes pernas de pedra que jaziam no meio do deserto. No chão perto delas, parcialmente quebrada, está a cabeça que pertenceu à estátua. O semblante do rosto de mármore mostra que aquele que esculpiu essa obra conseguiu captar muito bem as emoções da figura que o inspirou, figura esta que ainda vive estampada nessa obra sem vida. No pedestal que serve de base para as pernas está escrito:

"Sou Ramsés II, rei dos reis. Olhem meu trabalho, aqueles que se julgam poderosos, e tremam."

Nada resta por perto. Ao redor das ruínas desses destroços colossais, a areia branca se estende, nua e sem fronteiras, até onde a vista alcança.

Nós nos intrigamos, assim como algum caçador pode se intrigar quando, no futuro, parado sobre o local onde um dia reinou nossa civilização, indagar que civilização poderosa mas sem registros habitou aquele lugar aniquilado.

Por Alvaro Scorza (baseado em Shelley (Ozymandias)/ Smith (On a Stupenduous Leg....)

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

A Barca

A barca movia-se suavemente, deslizando sobre o mar agitado. Aproximava-se a noite e os últimos raios de Sol já minguavam, dando lugar ao crepúsculo.

D. e J. fumavam um cigarro na parte exterior da barca enquanto P., o mais jovem dos três, apenas olhava e conversava com os amigos. A cada vez que o mar balançava a barca, D. tinha que segurar com mais força a porta, estando seu corpo do lado de fora e seu braço dentro da barca, oferecendo-lhe proteção. J., por sua vez, encostava-se em um arco que é usado na hora do desembarque e olhava a água que a barca empurrava para trás. P. apenas observava-os encostado temerosamente contra a parede exterior.

Ansiosos, riam e brincavam enquanto a barca não alcançava seu destino. Os três iam assistir o show de uma banda alternativa de que gostavam e cada um estava imerso em sua própria realidade, compartilhando as boas vibrações que sentimos quando estamos na presença de amigos. J. sempre fora o sortudo dos três, aquele que foi atropelado enquanto andava de skate e levantou rindo, aquele que sempre subia no galho mais alto ao escalar uma árvore e saía ileso. Nuvens de fumaça ficavam para trás a cada baforada de J. em direção ao mar e à escuridão que a barca deixava pra trás.

D. comentava naquele momento sobre o jeito peculiar do guitarrista da banda que iam ver tocar. Este guitarrista gostava de tocar e pular em uma perna só, animando o público com seu jeito de universitário - barba densa e visual desleixado. J., inconscientemente, se afastou do arco em que estava encostado e foi imitar. Todos riram, mas nesse momento a barca sofreu um violento baque que fez D. segurar-se com toda força e P. abaixar, perdendo tudo e todos do campo de visão. Ao levantarem e recobrarem a noção de equilíbrio, J. havia sumido. D. riu:

- Ih, o J. caiu da água.

Nisso, P. falou:

- D.! Os motores!

As risadas transformaram-se em um olhar vazio e catatônico fitando o lugar em que J. havia estado um minuto atrás.

Por Alvaro Scorza

domingo, 16 de novembro de 2008

Ironia

Conheci uma menina há algumas semanas. De lá pra cá ficamos algumas vezes, não muitas, mas algumas. Ela me chamava de amor, eu não falava nada. Ela botava fotos minhas no orkut, eu não fiz nada disso. Ela elogiava cada centímetro do meu corpo e falava que meu beijo era perfeito...eu não dizia nada disso.

A última vez que ficamos foi quinta-feira.
Era uma noite úmida, a garoa teimava em cair imediatamente minguando até desaparecer por mais alguns minutos, quando caía novamente; a Lua iluminava e eu encontrei esta menina em uma praça.
Sentamos em uma mesinha e ela se aninhou no meio dos meus braços. Ficamos lá por volta de duas horas e nos despedimos com um beijo. Ela falou que queria sair comigo de novo e eu não falei nada.
Quando cheguei em casa, briguei com minha família por ter chegado tarde. Ela valia a pena eu ter brigado com minha família, mas eu nunca diria isso. Nem pra ela, nem pra minha família, nem pra mim mesmo em voz alta.

Quando chegou sexta-feira, ela começou a namorar. Alguns que lerem isso poderão pensar:

- Ela fez isso por sua frieza.

Não, ela não fez isso por minha frieza, simplesmente pq eu não era frio. Eu não dizia tão facilmente essas palavras bonitas, mas os gestos diziam muito bem o que eu não expressava verbalmente.
É engraçado ver essa dicotomia e pensar no desconcerto do mundo que foi discutido por Camões. Segundo ele, o mundo estava às avessas, pois os bons sofriam penas injustas e os maus eram agraciados com a boa sorte. Pois esse mundo desconcertado de Camões está nesses pequenos detalhes: aquela que mais demonstra seu sentimento está, na verdade, mentindo e aquele que não demonstra tais sentimentos sofre com a perda.

Por Alvaro Scorza